Albert e Joey: Unidos pela coragem |
Desde o dia em que comecei a escrever nessa coluna, não perdi nenhuma oportunidade para ressaltar o trabalho do diretor Steven Spielberg. Sim, sou fã de carteirinha. Ele, como nenhum outro, é capaz de nos fazer acreditar na força de uma infância ou juventude que julgamos perdida ou esquecida em algum canto escuro de nossa atribulada existência.
E com o filme Cavalo de Guerra, um dos indicados ao Oscar desse ano, não é diferente. Aqui, mais uma vez, temos de um lado um jovem corajoso e do outro um animal, em pleno vigor, igualmente altivo.
A Primeira Guerra Mundial, 1914, está se avizinhando na Inglaterra quando o rapaz Albert Narracot (Jeremy Irvine), um inglês sonhador, resolve mostrar ao pai, um alcoólatra inveterado, que o cavalo Joey tem serventia na fazenda e, portanto, não precisa ser vendido ou sacrificado. O cavalo está totalmente desacreditado pela comunidade local. Trata-se de um desafio para Albert provar que o animal é capaz de arar um pasto cheio de pedras.
Começa então uma história de amizade e lealdade entre o jovem e o animal. A Guerra se inicia e Joey cai nas mãos dos oficiais ingleses para desespero de Albert. É bom lembrar que naquela época os cavalos eram disputados a tapa em todos os fronts. Por causa disso Cavalo de Guerra é, talvez antes mesmo de um conto sobre amizade, uma história arrebatadora sobre coragem. Uma história sobre superação.
Albert e Joey ficam separados por batalhas e mais batalhas, mas não perdem a vontade de parar de lutar pela sobrevivência. Dos campos idílicos de Devon, magistralmente retratados por Spielberg, passando por redutos entrincheirados e macilentos, o cavalo consegue provar sua valentia por onde quer que ele cavalgue já que foi treinado por um jovem tão determinado e corajoso cujo sangue também está sendo derramado nas terras belicistas do Reino Unido.
Sim, Steven Spielberg tinha intenção de fazer um épico. As cenas de abertura do filme, exibindo uma vastidão verdejante mostram que o diretor de A Lista de Schindler conseguiu atingir uma técnica extraordinária ao filmar as tomadas externas. Também soube escolher as locações para contar a história de Albert e Joey.
Sim, é um filme que apela para o sentimentalismo. É bom manter alguns lenços descartáveis do lado. Eles serão úteis na cena em que os dois se separam; na cena em que o animal fica preso em arames farpado e, claro, na cena em que os dois se reencontram. Também não esperem por cenas sangrentas demais. Spielberg não quis repetir a carnificina retratada em O Resgate do Soldado Ryan.
Cavalo de Guerra é em síntese um filme que pode ser visto pelas crianças. Aliás, em quase todos os filmes comerciais de Spielberg, é legado apenas às crianças e aos jovenzinhos o dom de resgatar, seja de animais, pessoas ou extraterrestres, o que pode existir de melhor neles.
Já os adultos costumam entrar nas narrativas apenas para causar sofrimento e sentimento de abandono. Isso ficou patente em ET- O Extraterrestre e Contatos Imediatos do Terceiro Grau, por exemplo. Agora com Cavalo de Guerra a fórmula se repete. Separação, dor, redenção, cumplicidade e amizade são temas correntes.
São explorados sem pudor, levando a platéia às lágrimas. Algo equivalente a dizer que somos levados a crer que toda e qualquer batalha, pessoal ou bélica mesmo, só valerá a pena se carregarmos no coração e na mente o mais sublime e atemporal dos sentimentos – o amor.
Em Cavalo de Guerra esse sentimento está estampado no olhar de Joey e de Albert. O enlevo não aconteceu à toa. Foram necessárias muitas cavalgadas, muitas provações. Até o dia em que sob um crepúsculo dourado como fogo ambos conseguissem retornar para casa – com vida e fortes como nunca.
Curiosidades sobre o filme:
- Cavalo de Guerra foi baseado no livro "War Horse", de Michael Morpurgo, lançado em 1982.
- O filme foi rodado em locações na Inglaterra, com paisagens escolhidas a dedo pelo diretor.
- Foi o primeiro filme de Spielberg a ser editado digitalmente. O diretor era um defensor irredutível do método antigo, isto é, com a película sendo cortada manualmente na mesa de edição.
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